Só mesmo um país conseguiu reagir ao movimento de Trump na mesma moeda. À primeira vista, parece espantosa a disposição do ditador chinês, Xi Jinping, de responder ao tarifaço com força semelhante. A China tem muito a perder, pois 20% da sua economia depende das exportações, das quais 15% vão para os Estados Unidos. Mas, em meio à bagunça no comércio global desencadeada por Trump, há uma oportunidade para o dragão asiático. Nas últimas décadas, o país se tornou dominante em muitos setores da economia, sendo responsável por mais da metade das exportações globais de mais de 730 produtos, como insumos farmacêuticos, carros, baterias e celulares. O fechamento do mercado americano vai obrigar as empresas chinesas não só a buscar outros mercados, como a levar sua produção para outros países. Também será necessário estimular o consumo doméstico, para dar conta de escoar sua enorme produção. Ao final desse processo, a economia chinesa poderá se tornar mais forte e o mundo estará ainda mais conectado a ela. De quebra, o país vai posar de representante do status quo, em oposição à instabilidade personificada por Trump. Ao semear o caos para colher benefícios incertos no comércio com outros países, o presidente americano pode ter dado um presente ao seu maior rival. Enquanto isso, o restante do mundo prende a respiração à espera dos próximos capítulos da marcha da insensatez iniciada por Trump.