Há quem se pergunte como Milei conseguiu sobreviver no cargo até agora, em um país com histórico de instabilidade política e de presidentes de mandatos abreviados, ainda mais com a adoção de medidas fiscais tão duras e com um custo social imediato tão alto. A aprovação popular do seu governo mantém-se, surpreendentemente, em um patamar acima dos 50%. A explicação é que tudo o que Milei fez até agora estava em seu programa de governo. Não há surpresas e ele sempre disse que seria difícil. Os argentinos se convenceram de que precisavam de mudança. Seu estilo de confrontação, a vulgaridade das suas falas, as ideias negacionistas em outras áreas, como no meio ambiente, e o seu repúdio ao multilateralismo nas relações externas causam, com razão, espanto em muita gente. Na política econômica, porém, “El loco”, como o presidente ultraliberal por vezes é chamado, provou um ponto: crescimento do PIB ancorado em gastança pública, em países como a Argentina ou o Brasil, não tem sustentação. Quanto antes os ajustes fiscais puderem ser adotados, menor o seu impacto social. Deixar para depois ou ignorar o problema, como faziam os governos kirchneristas, significa cultivar o caos. Que o efeito Milei inspire Brasília.